domingo, 13 de junho de 2010

Por que a CBF odeia o Galo?

A ética e a transparência nos campeonatos brasileiros de futebol são artigos de luxo e estão em falta há muito tempo. Sabemos todos das manipulações existentes, dos resultados fabricados, das arbitragens duvidosas e dos autoritarismos vigentes. Mas preferimos nos auto-enganar e pensar que isso faz parte da normalidade e nos omitimos, nós da imprensa em geral, para não nos comprometermos e termos livre trânsito entre as esferas do poder do futebol. Ledo engano! No longínquo ano de 1969, no século passado, na cidade de Belo Horizonte, mais precisamente no estádio Magalhães Pinto, mais conhecido como Mineirão, teve início a rinha da antiga CBD (confederação brasileira de desportos), atual CBF (confederação brasileira de futebol) com o glorioso Clube Atlético Mineiro. Rinha esta que tem custado caro ao clube mineiro ao longo de todos estes anos. O fato foi a partida preparatória do ‘escrete canarinho’, em busca do tri-campeonato mundial de futebol em 1970, no México, contra o Clube Atlético Mineiro. Comandados pelo Sr. João Saldanha, jornalista de esquerda, criador do termo ‘fera’ para designar os craques de seu time, baseado na sua teoria de que craques, sejam eles quais forem, devem e podem atuar juntos, logo as “Feras do Saldanha’ se tornaram unanimidade nacional, contrariando o grande escritor e dramaturgo tricolor carioca, Nelson Rodrigues, para quem “ toda a unanimidade é burra! “ Pois bem, a CBD articulou um jogo amistoso preparatório para a seleção brasileira, e o Clube Atlético Mineiro, àquela época o clube mais popular de Minas Gerais, foi o escolhido para representar o Estado e jogar vestindo a camisa da seleção mineira, cujas cores são vermelho e branco, alinhadas com a bandeira imortal do ‘Libertas Quae Será Tamen’. Liberdade ainda que tardia! Ninguém em sã consciência imaginaria o que estava por vir. A seleção brasileira, de Pelé, Tostão, Jairzinho e Carlos Alberto, não foi páreo para o Galo fantasiado de seleção mineira. Quem foi para ver Pelé viu Dario, Peito de Aço, dar um drible desconcertante em Djalma Dias e avançar para as redes fazendo o segundo gol do Galo, ou seja da seleção mineira. E mais: Dario correu para a ‘massa atleticana’ e ao tirar a camisa da seleção mineira durante sua comemoração, vestia por baixo a imortal camisa listrada de preto e branco do Galo! O Mineirão veio abaixo de alegria. O placar foi 2×1 para o Galo! Pelé descontou em impedimento claro para a seleção canarinha. Não houve tempo para reações e por mais que o juiz colaborasse a vitória do Galo foi legítima e inesquecível naquela noite histórica para os atleticanos. Um feito! A seleção do Saldanha havia sido derrotada em grande estilo. Isso gerou críticas, dúvidas sobre a qualidade do time, sobre o esquema tático do Saldanha, e sobre sua lista de convocados. A torcida atleticana, ao contrário do que desejavam os cartolas da CBD, torceu para o Galo! Torceu por Minas Gerais e contra Tostão, que era atleta do Cruzeiro. Cantavam uníssonos: “1,2,3 o Brasil é freguês!“, e mais: “4,5,6, vem mais forte da outra vez!“ A irritação de João Havelange e seus asseclas não poderia ser maior. Nem mesmo Pelé, mineiro de nascimento, escondeu sua irritação e criticou a torcida do Galo e a falta de patriotismo. Este fato, creio eu, marcou o inicio de uma rivalidade histórica,entre a CBF e o CAM, que perdura até os dias de hoje. O time do Galo e a torcida do Atlético são ‘persona non grata’ aos executivos e cartolas da CBF, em especial ao Sr. Ricardo Teixeira e seu sobrinho Marco Antonio Teixeira, hoje executivo todo poderoso da CBF. A má vontade deles para com o Galo é visível e notada toda vez que o time ganha projeção ou está em vias de vencer algum campeonato nacional. Depois deste episódio vieram outros que aumentaram a irritação da CBF. A comemoração de Reinaldo, braço erguido, punho cerrado, simbolizando a resistência contra a Ditadura militar nos anos 70 e 80. As brigas e os processos, ainda em vigor, do ex presidente do Clube Atlético Mineiro, Alexandre Kalil, contra Ricardo Teixeira, o manda chuva da CBF. Logo surgiram as reações extra campo, de forma violenta, para atingir em cheio os interesses do clube mineiro: O julgamento , às pressas , do artilheiro Reinaldo na final de 1977, contra o São Paulo, que tirou o craque da decisão no Mineirão. O roubo escandaloso de José de Assis Aragão na final do brasileiro de 1980, quando expulsou Reinaldo ao fazer o gol de empate que daria ao Galo o título nacional; o roubo covarde de José Roberto Wright ao expulsar meio time do Atlético nas eliminatórias da Libertadores de 1981, no Serra Dourada, também contra o Flamengo. E mais recentemente o roubo vergonhoso do Sr. Simon ao não assinalar um pênalti claro para o Galo contra o Botafogo, aos 46 minutos do segundo tempo, em pleno Maracanã, por uma vaga nas semi-finais da Copa do Brasil 2007. Pra piorar a situação do Galo, Alexandre Kalil, dono de grande antipatia por parte da CBF é o presidente do time mineiro. Vamos esperar pra ver de quais outras maneiras a "justissima" Confederação vai tratar o Atlético Mineiro.
* O texto original, datado de 02 de outubro de 2007, pode ser encontrado aqui.
Texto de Rogério Brandão editado Por Raoni Ras

Nenhum comentário:

Postar um comentário