A ditadura, pior era política dos últimos tempos no nosso país, que para muitos só deixou prejuízos, para mim, deixou talvez a mais importante evolução cultural da nossa quincentenária história.
Composições como “Apesar de Você” e “Meu Caro Amigo”; ambas de Chico Buarque de Holanda; contendo dois sentidos, são obras de arte da língua portuguesa por ambos. Se fecharmos os olhos para o intuito político e prestarmos atenção apenas na letra, temos um espetáculo de singeleza e palavras bonitas. Mas para aqueles que as avalia com conhecimento prévio do quadro Brasileiro da época, as músicas se tornam livros completos, perfeitas aulas de história e de luta por democracia.
Hoje em dia, as composições perderam essa relação com a sociedade; os artistas deixaram de lado o bem comum, pra pensar apenas em suas carreiras. Isso teve inicio com a Jovem Guarda, na década de 1960; que mesmo com um Brasil autoritário compuseram musicas simples de amor, e usaram dessa arte não agressiva, para ganhar apoio e expressão nacional, utilizando principalmente a Rede Globo, parceira do governo.
Nas décadas seguintes, Raul Seixas, Cazuza, Renato Russo e outros cantores, continuaram sem se calar perante a realidade brasileira. Mas como concorrentes, apareceram os Sertanejos e Axé’s, de novo cantando musicas sem intenção de crítica ou auxilio à população, e no Brasil o que vendeu? O novo “ie-ie-ie”!
Agora é que “#%$@%”. Não temos sequer um cantor ou compositor atualmente fazendo música com fins de cidadania, na mídia. O chamado Sertanejo Universitário, liga os nossos cidadãos do futuro a essa cultura totalmente vazia de fins políticos ou sociais. Em contrapartida vem o Funk, exaltando as formas físicas das mulheres e a tão criticada perversão, como se isso fosse mais importante que o futuro do nosso país.
Esse é meu agradecimento à ditadura. Hoje já não há opressão, mas vejam em que ponto chegou nossa cultura. Ressalvo que sou o maior defensor da democracia, mas que democracia é essa em que somos forçados a ouvir Sertanejo, Sertanejo e Sertanejo?
Por Raoni Ras
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